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António Afonso Jorge, o autarca de Avô que se sentia impotente para resolver alguns problemas, “não conseguia mentir às pessoas” e acabou por se demitir para curtir a vida

Afonso Jorge, o autarca de Avô que se sentia impotente para resolver alguns problemas, “não conseguia mentir às pessoas” e acabou por se demitir para curtir a vida

Sentado num espaço privilegiado da sua quinta, situada bem no alto, António Afonso Jorge tem uma vista grandiosa para a vila de Avô no fundo do vale. Precisamente a localidade da qual se demitiu do cargo de presidente da Junta de Freguesia. Cerca de oito meses após ter sido eleito. Uma situação inusitada. Confessa que sai, porque está na “altura de curtir a vida”. Enfatiza este facto, mas não consegue esconder que convivia mal com a impossibilidade de resolver os problemas das pessoas que procuravam ajuda. Fosse porque o caminho não estava nas melhores condições ou por outro pequeno contratempo qualquer. “Sentia-me impotente. Não tenho cunho político, não minto e não podia dar uma resposta concreta às pessoas. Sou um homem de acção, mas para fazer qualquer coisa tinha sempre de andar a pedinchar à Câmara, o que não faz o meu feitio”, acaba por dizer.

Recusa, porém, que exista algum diferendo com quem quer que fosse. “Fiz em oito meses aquilo que me tinha proposto, com a minha equipa, realizar em seis. Está na altura de curtir a vida. Em Dezembro faço 73 anos”, conta enquanto vai fazendo festas a um dos seus pequenos cães. Sublinha que não sai aborrecido com ninguém, muito menos com o presidente da autarquia, José Carlos Alexandrino, “uma pessoa por quem” tem “grande estima, confiança e consideração”.

O seu projecto eleitoral estava, assegura, consumado. Em dois meses “a equipa autárquica”, como gosta de definir a forma como se relacionava com os dois restantes elementos que o acompanhavam no executivo, construiu um parque infantil, com recursos próprios. “Uma das coisas que me deu um gozo enorme foi ver as crianças a brincarem lá”. Apresentou o projecto para a futura casa mortuária e o projecto da extensão do Centro de Saúde local que deverá ficar no centro da vila para impedir uma maior desertificação. “Foi uma das nossas batalhas, ficará por cima do edifício da Junta. Mas para o conseguir tivemos a necessidade de adquirir um terreno para construir um parque. Foi feito, por cerca de 20 mil euros”, conta, adiantando que o plano encontra-se pronto. Tal como a estrada do Outeiro que está em esboço. Tinha em mãos ainda um dilema mais complexo que se prendia com o abastecimento de água. Também esse projecto está feito. “Este encontra-se na Câmara Municipal, mas não acredito que seja de possível execução a breve prazo”, refere.

Sobre os restantes projectos considera não envolverem verbas exorbitantes. “A casa mortuária deverá rondar os 30 mil euros e a extensão do centro de saúde andará à volta dos 60 mil euros”. Mas confessa que não podiam fazer mais. Não tinham recursos. Está tudo em lista de espera na autarquia. Dela dependem se as obras avançam ou não. “As coisas estão encaminhadas e tenho confiança no presidente da autarquia para lhes dar seguimento, porque a Junta de Freguesia não tem poder económico. O dinheiro que recebe não chega a nada”, diz.

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António Afonso Jorge trabalha desde que se lembra. Com nove anos de idade, em Almada, já trabalhava numa mercearia e levava 30 escudos ao fim do mês para casa. Aos 12 anos resolveu transformar-se em trabalhador estudante, frequentando a escola comercial e industrial. Frequentou o curso de electrotécnica e maquinas, que terminou aquando do 25 de Abril de 1974, numa altura em que lhe faltavam apenas duas cadeiras para se formar. “Como acabou tive de me matricular no curso de máquinas e fazer mais 20 cadeiras”.

Deu aulas durante um ano, passou pela CUF e Setenave. Em 1984 entrou ao serviço da autarquia de Alcochete, onde foi director do departamento técnico. Aposentou-se em 1996. Resolveu regressar a Avô, onde os pais lhe deixaram uma quinta. Durante alguns meses apoiou com os seus conhecimentos na autarquia de Oliveira do Hospital. “Só procurei ajudar, porque nunca quis nada com a política. Os políticos procuram ter o controlo de tudo e não faz parte da minha maneira de ser”, frisa, adiantando que o seu grande objectivo é transformar a quinta onde está instalado num jardim. “Gosto muito disto e não troco por nada. Já tenho idade para ter juízo e curtir a vida. É isso que vou fazer”, remata, antes de se despedir do CBS e de esclarecer que irá dar um mergulho na sua piscina. Algo simpático, face ao calor tórrido que se fazia sentir.

 

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