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“Crónicas de Lisboa” : Eu, Quem Sou? Autor: Serafim Marques

“Crónicas de Lisboa”: Em Tempo de Santos, os Demos Adam à Solta. Autor: Serafim Marques.

O período pascal findo coincidiu, este ano, com umas condições climatéricas de pré-Verão, como benesse de S. Pedro. Esta dádiva veio, assim, contentar aqueles que puderam “ir à terra” celebrar a Páscoa, uma das festividades com maior relevo no mundo rural, embora a perder importância, e aos outros, os seguidores duma certa religião a que chamaremos “hedonismo”, partirem, para umas  mini férias à beira mar, enchendo zonas turísticas, com os empresários do sector a agradeceram, porque estes “booms”, mesmo de turismo interno, são balões de oxigénio na economia local e nacional, e ainda mais quando se associam os estrangeiros, cujos países até estavam debaixo de condições climatéricas severas.

Sejam cristãos, islamistas ou outros religiões, incluíndo mesmo o culto  “hedonista”, cada um segue a sua fé, desde que o faça em respeito pelas crenças e práticas dos outros, se estas forem feitas de acordo com as leis e com os valores democráticos das sociedades a que pertencem ou onde estão inseridos. Infelizmente, os atentados contra “inimigos” religiosos, cidadãos do mesmo país, está em crescendo, com barbáries cometidas sobre civis indefesos só porque professam outra religião ou servem de pretexto aos grupos extremistas, fazem-nos lembrar os tempos das cruzadas ou mesmo duma certa violência praticada sobre os nativos nos processos de evangelização dos descobridores nas colónias conquistadas aos indígenas, violência pouco mencionado na história.

Nos tempos de hoje e dum maior  “desenvolvimento” do homem, estas barbáries e matanças humanas mostram-nos situações de inimaginável horror, mas afinal e apesar do progresso, embora muitas partes do globo tal ainda não tenha acontecido,  relevam a “besta humana” que continua dentro de muitas organizações políticas, religiões etc que recorrem às barbaridades humanas, na prossecução dos seus fins político-religiosos, fazendo disso uma forma de vida, por exemplo, os jihadistas, muitos deles nados e criados nas nossas sociedades ocidentais.

Mas também há outros “demos”  por aí à solta e que libertam as suas mentes perversas para fazerem o mal, por exemplo, os pirómanos que vão ateando fogos para satisfação dum ego doentio. Com é possível que com os campos ainda verdes do Inverno que há pouco acabou, a onda de fogos no país tenha atingido já várias centenas de fogos, alguns de grandes proporções? Segundo as autoridade e os especialistas, poucos são aqueles imputáveis  aos efeitos naturais, pelo que os restantes têm o factor humano por detrás, seja por negligência seja por acção criminosa. Repito, como é possível, sem o Verão ter ainda começado ocorrerem tantos focos de incêndio, alguns com início em plena noite, naturalmente ainda frias? O que falha na prevenção e na justiça aplicada aos “agentes” incendiários, aqui em sentido lato, porque o cidadão comum “fica de  pé atrás acerca dos incêndios” ? Numa altura em que se discute a elaboração duma lista de condenados por pedofilia, dividindo os defensores dos prós e dos contra, mas esquecendo-se sempre das crianças indefesas vítimas dos mais horrendos crimes, não faria sentido, e sem o estigma daquela, elaborar uma lista dos condenados por atearem incêndios, funcionando como forma de persuasão preventiva para  a repetição, que em muitos casos ocorre?

Esta “época santa” também não escapou, como excelente oportunidade, aos “gestores das greves” nos transportes (chamemos-lhes assim porque quando falam sobre os resultados das greves utilizam a mesma linguagem dos gestores: “a greve foi um sucesso”, ou , “conseguimos atingir os nossos objectivos”, etc), isto é, os sindicalistas justificam o seu “trabalho” (alguns deles há muito que não fazem outra coisa) pelas greves que  determinam, sim, sublinho a palavra “derminam”, porque não creio que seja votada em maioria pelos trabalhadores abrangidos. A CP, praticamente parou  nos “dias pascais” e, repare-se nos  dias da greve: quinta e sexta feira santa, mas no sábado não houve greve, funcionando os comboios a pleno. Depois, voltou a greve no  domingo e segunda feira de Páscoa. Como grandes “estrategas”, os sindicalistas sabem escolher os dias de greve procurando causar o maior dano à entidade patronal (aos utentes e a todos nós que lhes pagamos os ordenados através da bilhética ou dos nossos impostos) com o menor custo possível para os grevistas (a perda do salário correspondente). Desta vez foi a CP, mas ela mesma e outras EPs dos transportes têm recorrido a um número elevado de greves e outras se anunciam (Carris e Metro de Lisboa), afectando aqueles que  lhes  pagam os ordenados, sejam os utentes ou os contribuintes, através dos subsídios de exploração àquelas Eps, a maioria deles sem alternativas e auferindo salários muito baixos.

A greve, que em democracia é um direito, deveria ser usada apenas em situações extremas e como “arma de recurso” e não de forma banal como tem sido utilizada ultimamente no nosso país, mas é usada como forma de protesto a actos de gestão empresarial e que, nesse caso, poderão ultrapassar as funções dos sindicalistas, embora a fronteira não seja clara, porque embora certos actos de gestão possam afectar alguns ou a totalidade dos trabalhadores duma empresa, estes actos são da responsabilidade e da autoridade do gestor/empresário (ou dono). Nalguns casos, é a própria sobrevivência da empresa que está em causa, pelo que será legítimo que os sindicalistas (às vezes agindo com outras motivações e a “mando” de interesses que não os dos trabalhadores, mas que dizem defender) se oponham a esses actos e determinem greves, por vezes levando à falência da empresa, como há muitos exemplos na nossa história empresarial destes últimos anos? Infelizmente, os exemplos mostram um certo “divórcio” entre as Comissões de Trabalhadores e os sindicalistas, estes movidos por outros interesses que me dispenso de citar. Quem ganha com estas greves? Alguém, mas não os utilizadores dos serviços prestados pelas EPs e pelo Estado, ou talvez percamos todos nós porque as greves afectam a sociedade e a nossa economia como um todo. Quem são os responsáveis por este exagero grevista? Os sindicalistas “dinossauros” e os gestores maus negociadores? Provavelmente ambos, mas há reivindicações que vão para além do economicamente aceitável e da equidade e porque são interesses opostos. Nos tempos que correm, e em especial no nosso país, a atravessar um período difícil e de sacrifícios para todos, custa a entender que os interesses dos trabalhadores  duma qualquer empresa sejam assim tão antagónicos com a empresa, porque não há trabalho sem empresas (embora o Estado seja o maior empregador mas que não pode empregar toda a gente), tal como não há empresas sem trabalhadores. Temos que interiorizar que o factor trabalho é um “produto” de compra e venda e embora seja um direito (e não dever?), mas quem o garante? E, como tal, está sujeito à “lei da oferta e da procura” e são os trabalhadores melhor preparados que estarão na linha da frente nas contratações por parte das empresas e menos afectados pelas crises, sejam elas conjunturais ou estruturais. São necessários, cada vez mais, “novos trabalhadores” e “novos”empresários e gestores”, para que  ambos os factores económicos ( capital e trabalho), interagindo correctamente e não como inimigos, criem riqueza que a todos beneficia. Banalizar as greves também descredibiliza os trabalhadores e os prejudica e não só a entidade visada pelas “greves pelas greves”.

“Crónicas de Lisboa” : Eu, Quem Sou? Autor: Serafim MarquesSerafim Marques, Economista

 

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