Embora estes dois conceitos não sejam indissociáveis, com o capitalismo e com a crescente e cada vez mais sentida globalização, parece ser, nos dias de hoje, uma utopia reunir estes dois conceitos.
Não sendo regra, mas, sendo cada vez menor a excepção, é notória, na sociedade contemporânea, uma inexplicável abdicação de sentimentos, paixões, loucuras e acções que nos deveriam preencher enquanto seres humanos. Em vez disso, procuramos ser profissionalmente bem-sucedidos e economicamente abastados. E, sem nos apercebermos, trocamos invariavelmente as relações humanas pela busca ou usufruto de bens materiais.
Não deixa de ser verdade que, a menos que se pertença a uma tribo indígena ou se seja auto-suficiente a nível de produtos alimentares (abdicando de todos os outros bens), seja bastante complicado não atribuirmos o devido valor à nossa situação financeira.
Então, se partirmos para a generalidade do pensamento humano, a casa, o carro, as viagens, e muitas vezes o que se quer possuir apenas e só para mostrar ao vizinho, parece só estar ao alcance de quem tenha um emprego estável, e, se possível, com um bom ordenado.
Até aqui, tudo parece claro. O que me faz turvar a visão é aperceber-me do que se abdica para atingir tais objectivos. Cegamos até sermos o administrador lá na empresa, trabalhamos que nem mouro para acumular “papel” (ainda se fosse ouro!) e ficamos imbuídos neste espírito, de tal forma que, não é, nem parece ser visível que estamos saturados de todo este mecanismo repetitivo. Não se vê, salvo raros indivíduos, a capacidade de se aperceberem que a vida vai muito mais além de tudo isto. Para minha decepção, apenas vejo uma forma de conseguir “purificar” todos os outros indivíduos. Mas não sendo a minha decepção motivo suficiente para poder materializar essa forma, terão que interpretá-la mentalmente, já que, é impossível de a fazer “humanamente”.
Partindo então do pressuposto que seria dada a possibilidade a cada um de nós de cinco minutos antes de morrermos (independentemente do tipo de morte que fosse) sermos notificados por um anjo que exclamaria: “Lamento, a tua continuidade no mundo dos mortais irá ser extinta dentro de cinco minutos. Diverte-te!”. Só aí, talvez, a maioria entendesse o verdadeiro significado da vida.
Numa curta retrospectiva (já que cinco minutos não dão para grandes voos) o multimilionário dos Emirados Árabes Unidos e proprietário de uma mão cheia de iates, iria dar valor à jangada que construiu com a Petra aos 18 anos. O corretor de bolsa mais abastado lá do sítio, que vivia em constante pressão devido ao risco de arriscar capitais, arriscou dinheiro, mas recordou-se, aquando da visita do anjo, que nunca teve a coragem para arriscar na Elizabeth, o grande amor da sua vida. A japonesa Kaoru, vendedora de peixe em Tóquio, apercebeu-se que afinal o seu sonho era o ballet, mas as vendas de peixe permitiam-lhe manter aberto o Dojo, a grande paixão do seu marido…
É indiscutível, como já referi, que é impossível (salvo algumas excepções) viver descurando a parte financeira. Ainda assim, que nenhuma moeda, empresa, ordenado ou qualquer tipo de bem “artificial” sirva de substituto para as relações que te deixam humanamente satisfeito. Assim, não corres o risco de teres andado à toa. E só te apercebas disso quando apenas te restam cinco minutos…